sábado, 27 de outubro de 2007

FAVELA, fábrica de Marginal? Cuidado com a grande falácia!

Estreando neste o espaço, frente às muitas coisas a postar e buscando seletividade quanto ao tempo escasso, por um debate que predominou a partir de quarta-feira (25/out/07), e atinge em cheio as nossas cidades principalmente as Megacidade de países (semi) periféricos, apesar de não estar longe de países centrais: a formação de favelas. O que parecia exceção virou regra, a moradia “ilegal” e a incapacidade estatal de suprir a demanda por habitações de qualidade.

O ilustre governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, declarou que as taxas de fertilidade de mães faveladas são uma “fábrica de produzir marginal” (Folha de SP, C1, p. 1 e 3), fazendo ligação diretas entre altas taxas de natalidade e criminalidade, produzindo uma grande falácia, que muitas vezes é usada para justificar a incapacidade estatal na resolução dos problemas sociais.

Tal concepção pode até parecer verdadeira em primeiro instante, principalmente para a convicta classe média, ignorante das condições de vidas nas grandes periferias pobres, composta principalmente por um mosaico de habitações de baixos padrões e favelas. Eles que conhecem o “espaço dos favelados” por estereótipos estigmatizantes, posteriormente indicam "soluções" para esses moradores, no caso o aborto. Imagina, libera-se o aborto, dimunui a violência, dai poderam andar com Rolex em seus carros importados.

Para esse grupo é comum a imagem da favela como espaço sujo, com famílias desestruturadas, trafico de drogas, promiscuidade. O que poderia resolver o problema, não são mais escolas ou instrumentos de lazer, mas sim é um maior policiamento, bem como redução da menor idade penal, construção de cadeias e além da legalização do aborto.

Com adoção do estereótipo estigmatizante da “industrias de marginais” perde-se a real concepção da difícil vidas nas favelas, bem que meio a uma infinidade de problemas, de ordem social, político, econômica e cultural. É certo que as oportunidades são reduzidas e probabilidades dessas crianças e jovens obterem sucesso profissional são bastante reduzidas. Muitas vezes são famílias nas quais os responsáveis trabalham o dia todo, sem dar devida atenção aos “pequenos” que acabam rumando para o “caminho mais fácil”.

Ditados por um tênis “da ora”, um celular de ultima geração, ou quaisquer outros elementos de identificação entre os grupos, pegam armas mais pesadas que seus braços suportam, para assaltar na cidade
[i], ou vigiar se a polícia não sobe o morro, garantindo o funcionamento do tráfico de drogas.

O governador e os adptos da concepção aqui exposta esqueçeram que meio ao negativo determinismo espacial, podem surgir o não esperado, como famílias que com dificuldades de aquisição dos bens materiais e essenciais para a vida, conseguem dotar seus filhos de valores éticos e morais que os façam discernir entre o "certo e o errado", fazendo com que optem pelo caminho mais difícil, a educação
[ii].

Assim na defesa da descriminalização do aborto, sob a logica na marginalidade dos favelados, a opção pelo caminho a trilhar, isto é o "bom" ou o "mal" caminho não é feita, pois não podem falar, alias nunca puderam porque estarão mortos, por adolescente ou adulto ciente ou não dos complexos problemas socias, silenciou com a morte. Sob o comando de um Estado autoritário, respaldado por uma classe que prega somente valores de consumo, esses comtinuaram se disseminando entre a população.

A grande falácia, cai quando comparamos as taxas de natalidade
[iii] do continente africano, como em Guine Bissau 36,81 nascimentos/1.000 habitantes (2007), ou Angola 44,51 nascimentos/1.000 habitantes (2007), com as do Brasil 16,3 nascimentos/1.000 habitantes (2007), ou mesmo no próprio país, as taxas do Nordeste com o Sudeste, e se pergunta onde há mais violência? Na África (e ainda se considerando o recente fim da Guerra Civil) ou Nordeste, ou no eixo Rio -São Paulo?
No mesmo jornal em (27/out/07), no artigo de Martine & Corrêa (p. A3) se aponta que segundo a pesquisa da Escola Nacional de Ciências e Estatísticas do IBGE, as mulheres residentes em favelas do Rio têm em média 2,6 filhos, contra 1,6 das que residem fora, sendo que dentro ou fora da favela estes índices são comparáveis ao europeu.
Sabe-se que a vida em favelas não é fácil, mas os problemas são mais complexos que essa simples correlação entre natalidade e criminalidade. Será que esqueceram daqueles jovens que espancarão uma empregada doméstica no Rio de Janeiro, dos jovens delinqüentes de Brasília que já queimaram alguns índios, ou dos paulistanos que após uma noite de bebedeira testam seus possantes carros em rachas que muitas vezes acabem em tragédia, eles moravam em favelas?

[i] Cidade porque se considera a favela como a “não cidade” afinal para órgão oficiais a cidade é o legal, o espaço urbanizado ou dotado de infra-estrutura, quadro muito diferentes das favelas.
[ii] Mas difícil porque estudar em primeiro instante não é prazeroso quando se podia estar fazendo outras coisas rentáveis economicamente, sem contar com a estrutura da instituição escolar e a idéia generalizada que é muito difícil a concorrência com jovens que “moram na cidade” e estudaram em “ótimos colégios”, e assim entraram nas melhores universidades, completando seu ciclo sócio-econômico, predestinado pelo “berço”.
[iii] Index Mundi: http://www.indexmundi.com/pt. Acessem é um paraíso das estatísticas confiáveis.