domingo, 27 de abril de 2008

Se “a Classe Média Vai ao Paraíso”, Onde é que Ele Fica: comentários a cerca da expansão do consumo e do desenvolvimento urbano.

Nos últimos meses, venho acompanhando uma tendência na dinâmica econômica brasileira: a expansão do consumo na classe média (de acordo com o IBGE, classes C e D)। Nunca foi tão intenso o consumo desse patamar social, que implica transformações espaciais। Por outro lado, contrariando o senso comum, não se trata de um autentico desenvolvimento, ou desenvolvimento urbano, em amplo sentido, conforme possa parecer com uma leitura a-critica da realidade। Jugo que tal situação possa ser observada sob duas óticas: positiva e negativa।

Em termo econômico, o acesso à bem fundamentais e não fundamentais (em parte) é necessário para maior tributação, por conseqüência maior arrecadação para Estado, seguida por sua aplicação em serviços públicos como escolas, hospitais, entre outros (apesar deste ciclo fiscal-tributário parecer, positivo parte do que pertence ao público, vai quase sempre para as mãos de agentes privados).
A dinâmica econômica é impulsionada pela “ditadura do consumo”, onde ter algo para pertencer a determinado grupo é mais importante do que ser cidadão, nos remetendo ao antigo ideal no qual “ser algum na vida” é tornar-se um consumidor padrão, pré-moldado pela publicidade.

É computador, troca de geladeira, televisor LCD, carros, enfim são n objetos cobiçados. Longe de se afirmar a desnecessidade de aquisição desses objetos, esperaria das pessoas consumo mais consistente e crítico, buscando as nossas reais necessidades, assim, quebrando o consumismo que esta impregnado em nossas ações, mesmo que inconscientemente.


O endividamento é resultado direto dessas práticas que torna tão atraente a satisfação dos desejos de ter objetos que não cabe no orçamento de hoje, mas que em suaves prestações são bem vindos e nos deixam “mais felizes”. Em algumas lojas eles até perguntam quanto você quer pagar (“Quer pagar quanto?”).

Simultaneamente, por um lado, as compras de computadores, criação de Lan House, entre outros bens e serviços nunca estiveram tão presentes e difundidos nas pequenas e grandes cidades, fato muito positivo aliado à inclusão digital. Do outro lado, os extraordinários lucros dos bancos no país nunca foram tão altos, graças à oferta de crédito. Vide o Bradesco, campeão em rendimentos no ano passado (2007). Ambas as situações estão intimamente ligadas e expansão do consumo na classe média.

Tratando-se de casos concretos não nos faltam opções, os produtos da Nestlé, antigo símbolo de status de consumo (título que ainda preserva) e sinônimo de produtos de qualidade (o que parece inquestionável). De empresa de produtos para classes do topo, que exigem serviços “diferenciados e personalizados”, (ver o valor do leite Molico e biscoito Calipso), lança uma caixa de chocolate (Sem Parar) que custa cerca de R$ 2,00. Dessa forma usando o mesmo nome, também lucra com o consumo de todos os grupos sociais.

A rede francesa de supermercados Carrefour, é adepta da mesma prática, porém com rótulo diferente, já que adota a bandeira Dia%, nos pequeno estabelecimento comerciais, com produtos pouco diversificados, mas com preços muito atraentes para as classes C e D. No ramo da construção civil, a empresa Cyrela, criada com foco no consumo de alto padrão, embarcou na expansão do consumo da classe média, sob a nova marca Living, lançou quatro empreendimentos voltados para a classe média alta e baixa.

Tanto o Carrefour como a Cyrela possuem táticas semelhantes: mantêm se a exclusividade a serviços personalizados para quem poder pagar por eles, e lançam nos tentáculos na tentativa de drenar os recursos e desejos da classe C e D, assim como o Grupo Pão de Açúcar historicamente faz com Pão de Açúcar e Compre Bem.

No plano Político, a ampliação da classe média virou propaganda política do presidente Lula, ou seja, o PT esta deixando os brasileiros menos pobres e dinamizando a economia do país.
Se tradicionalmente, o aumento de renda e a modernização tecnológica são vistos como desenvolvimento de nossas cidades e da sociedade, antigo paradigma do desenvolvimentista e economicista (crescimento econômico + modernização tecnológica) ou “desenvolvimento urbano” não é valido, pois paralelamente temos seus efeitos perversos, cuja imagem vale mais que palavras:


Conforme o geógrafo Marcelo Lopes de Souza nos expressa(Mudar a Cidade, 2005):
"Um desenvolvimento urbano autêntico, sem aspas, não se confunde com a simples expansão do tecido urbano e a crescente complexidade deste, ma esteira do crescimento econômico e da modernização tecnológica. Ele não é, meramente, um aumento da área urbanizada e nem mesmo, simplesmente, uma sofisticação ou modernização do espaço urbano, mas antes e acima de tudo, um desenvolvimento sócio-espacial na e da cidade: vale dizer, a conquista de melhor qualidade de vida para um numero crescente de pessoas e cada vez mais justiça social. Se uma cidade produz mais e mais riqueza, mas as disparidades econômicas no seio da população aumentam; se a riqueza assim produzida e o crescimento da cidade se fazem às custas da destruição de ecossistemas inteiros e do patrimônio histórico-arquitetônico; se a conta da modernização vem sob a forma de níveis menos toleráveis de poluição, de estresse, de congestionamento; se um numero crescente de pessoas possui televisão em casa, para a programas e filmes de qualidade duvidosa e que, muitas vezes, servem de inspiração para atos de violência urbana, violência urbana essa que prospera de modo alarmante; se é assim falar de ‘desenvolvimento’ é ferir o bom senso".

Certamente o paraíso que a classe média freqüenta está longe de ser as cidades brasileiras!