quinta-feira, 7 de março de 2013

Os estudantes do IPPUR sobre a palhaçada lúdico-capitalista do senhor prefeito


Todos devem estar acompanhando nas mídias os protestos dos cariocas em relação aos gastos de verbas públicas com jogos que naturalizam a competição imobiliária, enobrecem os "feitos" do prefeito Eduardo Paes e mais que isso transforma esse jogo fúria capitalista em instrumento didático para as nossas crianças e adolescentes! 


Vejam a carta-manifesto dos estudantes do IPPUR

Rio de Janeiro, 04 de março de 2013 

CARTA  ABERTA  DOS  ESTUDANTES  DE  PÓS-GRADUAÇÃO  DO  INSTITUTO  DE  PESQUISA  E 
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL DA UFRJ AO PREFEITO EDUARDO PAES. 

Os  estudantes  de  pós-graduação  do  Instituto  de  Pesquisa  e  Planejamento  Urbano  e  Regional  da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro vêm, por meio desta, manifestar repúdio à iniciativa da Prefeitura do 
Rio de Janeiro em comprar e distribuir o jogo Banco Imobiliário: Cidade Olímpica nas escolas municipais da 
cidade.  Baseando-nos  no  conjunto  de  leis  que  estabelecem  as  diretrizes  gerais  da  educação  e  da  política 
urbana no Brasil, concluímos que esta  atitude foi orientada por  interesses políticos e econômicos que não 
estão comprometidos com o amadurecimento crítico dos jovens cariocas.  
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina, em seu parágrafo segundo, que “A educação, dever da 
família  e  do  Estado,  inspirada  nos  princípios  de  liberdade  e  nos  ideais  de  solidariedade  humana,  tem  por 
finalidade  o  pleno  desenvolvimento  do  educando,  seu  preparo  para  o  exercício  da  cidadania  e  sua 
qualificação  para  o  trabalho”.  O  brinquedo  em  questão  não  contribui  com  a  formação  intelectual  e  cidadã 
dos  educandos  acerca  do  espaço  urbano  do  município do  Rio  de  Janeiro.  Ao  invés  disso,  o  jogo 
praticamente  naturaliza  a  competitividade  para  a  acumulação  e  a  especulação  imobiliária  quando,  em  sua 
dinâmica,  gera  expectativas  de  ganhos  econômicos  a partir  de  intervenções  urbanísticas  realizadas  pelo 
Estado.  Afora  isso,  ele  ainda  exalta  as  obras  realizadas  pela  atual  gestão  municipal,  caracterizando-se 
como  um  instrumento  de  propaganda  política,  despreocupado  em  disseminar  entre  os  discentes  da  rede 
municipal  um  entendimento  das  reais  condições  urbanas  de  moradia  e  do  uso  de  equipamentos  públicos 
nas diferentes localidades da cidade mencionadas pelo brinquedo. 
Questionamo-nos: Por que em uma atividade lúdica sobre a cidade em que os alunos vivem, realizada nas 
dependências  escolares,  o  princípio  do  “preparo  para  o  exercício  da  cidadania”  está  confundido  com 
princípios  que  orientam  e  regulam  os  mercados  capitalistas?  Por  que  não  se  desenvolveu  um  jogo  que 
buscasse propagar princípios básicos do Estatuto das Cidades, já que esse “estabelece normas de ordem 
pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança 
e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”? 
O  jogo  estimula  o  educando  a  entender  a  cidade  como  um  espaço  exclusivamente  mercantil.  A 
“compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em 
que se fundamenta a sociedade” são apresentados de forma a impor uma ideologia baseada na competição 
e  na  acumulação  individual  de  bens  materiais.  A  solidariedade  humana  e  a  atuação  em  prol  do  coletivo 
(como  previsto  no  Estatuto  das  Cidades)  são  substituídas  por  valores  individuais.  A  cidade  é  informada 
como sendo mero espaço de acumulação, na qual os problemas resumem-se aos meios para a valorização 
dos imóveis particulares. O “aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética 
e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (LEI DE DIRETRIZES E BASES DA 
EDUCAÇÃO) são, portanto, contrariados, considerando-se as  diretrizes básicas da educação e  da política 
urbana no Brasil.  
Por  fim,  o  brinquedo  não  estimula  a  criticidade  e  a  competência  na  resolução  de  problemas  reais  no 
ambiente urbano brasileiro, como a desigualdade no acesso à infraestrutura social, aos serviços públicos e 
à moradia digna.  Ele conforma um discurso ideológico que apresenta um modelo de cidade, resultante de 
um  projeto  político  e  econômico  de  um  determinado  grupo  dominante,  como  natural  e  inquestionável  aos 
educandos,  ignorando os conflitos  que se dão no espaço urbano  em torno da  luta por condições dignas e 
igualitárias de moradia e acesso aos equipamentos públicos de uso coletivo. 
Isto  posto,  tendo  como  base  os  Artigos  32º  e  35º  da  Lei  de  Diretrizes  e  Bases  da  educação,  que  dispõe, 
respectivamente, sobre a finalidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, e o Estatuto das Cidades, 
que  estabelece  as  diretrizes  gerais  da  política  urbana,  concluímos  que  a  iniciativa  de  utilizar  tal  jogo  nas 
escolas  é  inadequada  e  nociva  para  a  formação  cidadã  dos  educandos.  Assim,  reafirmamos  o  nosso 
repúdio  e  indignação  quanto  à  distribuição  do  jogo Banco  Imobiliário:  Cidade  Olímpica  nas  escolas  da 
cidade do Rio de Janeiro. 

Assinado: Estudantes de pós-graduação do IPPUR/UFRJ

Um comentário:

Jaqueline O. disse...

Também fiquei surpresa com o grau de cinismo ao se adotar o banco imobiliário nas escolas do Rio. Afinal, não é de hoje que até parece mesmo ser um jogo sem consequências, sérias, a especulação imobiliária, o uso da força ao expulsar pessoas de áreas valorizadas pelos grandes interesses imobiliários. Mas daí a trolar totalmente... Olha, realmente não se cansam de nos surpreender (e pra pior).